Présentation du blog / Presentazione del blog

« Questo blog nasce da una grande passione per la poesia e per i poeti di lingua portoghese. Qui troverete poesie e prose poetiche seguite dalla traduzione in italiano e francese ».

« Este blogue brota de uma grande paixão pela poesia e pelos poetas da língua portuguesa. Aqui vocês encontrarão poemas e prosas poéticas, acompanhados da sua tradução em italiano e francês ».

« Ce blog est né d'une grande passion pour la poésie et les poètes de langue portugaise et a pour vocation de vous les faire découvrir. Vous trouverez ici les poèmes, en vers ou en prose, de poètes de tous horizons, accompagnés de leur traduction en italien et en français ».


 ACTUALITÉS DU BLOG / NOTIZIE SUL BLOG



Fechamos o corpo...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Paulo Leminski »»
 
40 clics em Curitiba (1976) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Fechamos o corpo...
Chiudiamo il corpo...


Fechamos o corpo
como quem fecha um livro
por já sabê-lo de cor.

Fechando o corpo
como quem fecha um livro
em língua desconhecida
e deconhecido o corpo
desconhecemos tudo.
Chiudiamo il corpo
come si chiude un libro
che già si sa a memoria.

Chiudendo il corpo
come si chiude un libro
in una lingua ignota
e ignorando il corpo
ignoriamo tutto.
________________

Guillaume Bresson
Senza titolo, mostra 'La caduta dei corpi' (2024)
...

AUTEUR SUIVI / AUTORE SEGUITO



Nuno Rocha Morais

Nuno Rocha Morais (Porto, 1973 – Luxemburgo, 2008) foi um poeta português. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Ingleses) na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1995.

Ao teu lado, mudo


Nome:
 
Collezione:
Fonte:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
Luso Poemas »»
 
Francese »»
«« 51 / Sommario (52) / 53 »»
________________


Ao teu lado, mudo
Accanto a te, muto


“Invadiu-me uma sensação de calma,
de tristeza e de fim”

Virginia Woolf

Ao teu lado, mudo.
Suponho que pousei a mão
No teu ombro, não sei,
Ausentes ambos,
Tu do ombro, eu da mão.
Lá fora, não muito longe
Do vidro, a manhã passa
E é calma, tristeza, fim.

“M’invase una sensazione di calma,
di tristezza e di fine”

Virginia Woolf

A te accanto, muto.
Penso d’aver posato la mano
Sulla tua spalla, non so,
Entrambi assenti,
Tu dalla spalla, io dalla mano.
Là fuori, non molto lontano
Dal vetro, passa il mattino
Ed è calma, tristezza, fine.

________________

Henry Moore
Re e Regina (1952-53)

...

Deixei de frequentar...


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Francese »»
«« 50 / Sommario (51) / 52 »»
________________


Deixei de frequentar...
Ho smesso di frequentare...


Deixei de frequentar certos sítios,
Aqueles onde, vazia, uma cadeira
Quereria insistente saber de ti,
Esses sítios que evito talvez por temor
De me cruzar connosco, a rir, felizes,
Seguindo em sentido contrário.
Mas de uma cadeira vazia posso às vezes jurar
Que sobe ainda o teu riso,
A adolescer todo o espaço,
Erguendo-o em voo
Para logo o devolver
Seguro à nossa volta.

Ho smesso di frequentare certi posti,
Quelli dove, vuota, una sedia
Assillante, vorrebbe sapere di te,
Quei posti che evito forse per timore
D’imbattermi in noi, che ridiamo, felici,
Percorrendo un cammino contrario.
Ma da una sedia vuota potrei, talvolta, giurare,
Che ancora la tua risata si levi
E ringiovanisca tutto lo spazio,
Innalzandolo in volo
Per poi riversarlo
Intatto intorno a noi.

________________

Vilhelm-Hammershøi
Interno con giovane uomo che legge (1898)
...

Para Zbigniew Herbert


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Francese »»
«« 49 / Sommario (50) / 51 »»
________________


Para Zbigniew Herbert
A Zbigniew Herbert


O senhor Cogito pensa,
Mas já não está em casa:
Tudo lhe é estranho
Porque está vazio.
As paredes do pensamento não impedem
O derramamento do mundo.
Os conceitos apodreceram,
O despojamento é o pior dos sanatórios.
O senhor Cogito ensaia a fórmula
Animula vagula blandula,
Mas nada se aplaca.
Pensar não produz claridade,
Pensa o senhor Cogito,
E a verdade não é translúcida,
Nem se quer descoberta;
Porém, as evidências, suas rivais,
Ocuparam tudo, sombrias, incompreensíveis.
Pensar rege-se agora pela sua lei marcial,
Pensa o senhor Cogito.
Anota tudo num caderno de areia,
Amanhã não saberá o que aprendeu –
Terá mudado a leitura dominante.
O senhor Cogito pensa, mas suspeita
Que já não existe.

Il signor Cogito pensa,
Ma non sta già più a casa:
Tutto gli è estraneo
Perché tutto è vuoto.
I muri del pensiero non precludono
Lo sversamento del mondo.
I concetti si sono decomposti,
La spoliazione è il peggiore dei sanatori.
Il signor Cogito sperimenta la formula
Animula vagula blandula
Ma nulla si placa.
Pensare non genera chiarezza,
Pensa il signor Cogito,
E la verità non è traslucida,
Né vuol essere scoperta;
Tuttavia, le certezze, sue rivali,
Hanno occupato tutto, cupe e incomprensibili.
Pensare si fonda adesso sulla sua legge marziale,
Pensa il signor Cogito.
Annota tutto in un quaderno di sabbia,
Domani non saprà ciò che ha imparato –
Sarà cambiata la lettura dominante.
Il signor Cogito pensa, ma sospetta
Di non esistere già più.


________________

Ritratto dell'imperatore Adriano
Scultura romana del II secolo d.C. (particolare)
...

A morte de Kavafis


Nome :
 
Collezione :
 
Altra traduzione :
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Francese »»
«« 48 / Sommario (49) / 50 »»
________________

A morte de Kavafis
La morte di Kavafis

Febo vingava-se de novo
Com uma variante da maldição de Cassandra:
O cancro da laringe.
Mas não estava ainda tudo dito,
Faltava o I know not what tomorrow will bring.
Kavafis desenhou então,
No mundo implícito de uma folha de papel,
Um círculo e no centro do círculo apôs,
Meticuloso, um ponto final,
A vida completando-se imperceptivelmente
No interior da arte.
Febo si vendicava nuovamente
Con una variante della maledizione di Cassandra:
Il cancro della laringe.
Ma ancora non era tutto detto,
Mancava il I know not what tomorrow will bring.
Kavafis disegnò allora,
Nel mondo implicito d’un foglio di carta,
Un cerchio e al centro del cerchio aggiunse,
Meticoloso, un punto finale:
La vita che si conclude impercettibilmente
In seno all’arte.
________________


Jean-Charles Taillandier
Saggi sul ritratto
(2013-2018)

Em Itália


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Francese »»
«« 47 / Sommario (48) / 49 »»
________________


Em Itália
In Italia


Estivemos em cem cidades,
Faltarão outras cem
Para o caminho estar apenas começado.
Juntos subíamos às torres, juntos chegávamos,
De cada cimo partia o teu sorriso
Até à cidade seguinte,
Sempre para sul, sempre para sul –
O meu anfitrião em Otranto.
Entre colinas, segredado pela distância,
O mar, como querendo dividir-se e dividir-se,
Oliveira e pedra sob o sol ligure,
Esplendor de mármore multicolor.
Eis aqui o pálio de algo em mim contra si próprio
E a graça toscana que é já tua,
E a tarde bailando, velida,
De colina em colina,
Num mundo ainda antigo.

Siamo stati in cento città,
Ne mancheranno altre cento
Lungo la strada appena incominciata.
Saliti insieme sulle torri ed arrivati insieme,
Da ogni cima partiva il tuo sorriso
Fino alla città seguente,
Sempre più a sud, sempre più a sud –
Il mio anfitrione è a Otranto.
In mezzo alle colline, celato dalla distanza,
Il mare, come se volesse dividersi e dividersi,
Oliveti e pietre sotto il sole ligure,
Splendore di marmi variegati.
Qui c’è il palio di qualcosa in me contro se stesso
E la grazia toscana che è già tua,
E la sera danzante, venusta,
Di collina in collina,
In un mondo ancora antico.

________________

Piero della Francesca
Il ritrovamento della vera Croce
(dettaglio con veduta di Arezzo) (1452-1466)
...

A dança lê o espaço


Nom :

Recueil :
Source :

Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»

Últimos Poemas »»
nunorochamorais.blogspot (2015/06) »»

Italien »»
«« 46 / Sommaire (47) / 48 »»
________________

A dança lê o espaço
L'espace est lu par la danse

A dança lê o espaço
E só onde pousa o corpo
Não é o vazio.

Conheceis o deslumbre
De um mundo que só existe
A cada gesto.
L'espace est lu par la danse
Et là où le corps se pose
Il n'est pas de vide.

Vous connaissez l'éblouissement
d'un monde qui seul existe
à chaque geste.
________________

Henri Matisse
La danse (1909)

Tensos os músculos do pescoço...


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Italien »»
«« 45 / Sommaire (46) / 47 »»
________________


Tensos os músculos do pescoço...
Tendus, les muscles du cou...


Tensos os músculos do pescoço
Na pedra tensa e verde –
Uma cabeça prestes a erguer-se.
Perante este Cristo imenso
Pronto a evadir-se da cruz,
Voejando, cansado de esperar o amor
Que o poupasse ao sacrifício,
Teremos amor ainda
Perante este Cristo de trevas,
Luciferino e vingador?

Tendus, les muscles du cou
Dans la pierre tendue et verte –
Une tête prête à se relever.
Devant ce Christ immense
Prompt à s'échapper de la croix,
S'envolant, fatigué d'attendre l'amour
Qui lui épargnerait le sacrifice,
Aurons-nous de l'amour encore
Devant ce Christ de ténèbres,
Luciférien et vengeur ?

________________

Salvador Dalí
Le Christ de Saint Jean de la Croix (1951)
...

Canção


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Italien »»
«« 44 / Sommaire (45) / 46 »»
________________


Canção
Chanson


Primeiro, a viagem esburacando-se
Por ruas mais e mais estreitas
Num autocarro fumegante
Até essa casa de subúrbio;
Depois, à chegada, tu,
Luminosa, sorrindo à porta,
Envolta num veludo de perfume,
Cascata de caracóis castanhos –
Tudo o que sobrevive do teu nome.
Na sala, à nossa volta, absorvendo tudo,
O âmbar de uma canção,
Precisamente esta que adolesce a noite
Tantos anos depois,

A canção que ainda és e és apenas.

D'abord, le voyage qui se remplit de trous
Par les rues de plus en plus étroites
Dans un autocar fumant
Jusqu'à cette maison de banlieue ;
Ensuite, à l'arrivée, toi,
Lumineuse, souriante à la porte,
Enveloppée par le velours d'un parfum,
Une cascade d'escarboucles châtaines –
Tout ce qui survit de ton nom
Dans la salle, à notre retour, absorbant tout,
L'ambre d'une chanson,
Précisément celle qui ravive la nuit
Après tant d'années,

La chanson qui est encore et presque toi.


________________

Marc Chagall
Coq rouge dans la nuit (1944)
...

« Le bal au Moulin de la Galette »


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Italien »»
«« 42 / Sommaire (44) / 45 »»
________________


«Le bal au Moulin de la Galette»
« Le bal au Moulin de la Galette »


A dança é a primeira arte da metamorfose:
Operários, costureiras, que a música arranca
Ao seu torpor de primeiros autómatos,
Ligam-se aqui pelos fios de ínfimas narrativas
A burocratas, marginais, impressionistas,
Sob a luz caprichosamente coada pelas árvores
De um domingo à tarde, em Montmartre.
Mas como saber quem muda? E como? E quanto?
E mudará alguém que esteja no quadro?
Artes políticas, a dança e a pintura,
Precisamente porque omissas –
Como se, esquecendo, não esquecessem,
Mas antes gritassem, a pólvora, as barricadas,
As baterias, os fuzilados da Comuna,
A construção, em represália, de uma basílica,
Sinal de vigilância moral
Sobre as facilidades da virtude, os ritmos dissolutos.
A dança e as suas íntimas narrativas
Pintadas com paciência chinesa
Sobre a porcelana de um domingo à tarde,
Pintadas com os olhos de um pescador.

La danse est l'art premier de la métamorphose :
Ouvriers, couturières, que la musique arrache
À leur torpeur de premiers automates,
Sont reliés ici par les fils de récits infimes
À des bureaucrates, marginaux, impressionnistes,
Sous une lumière capricieusement tamisée par les arbres
D'un dimanche après-midi, à Montmartre.
Mais sait-on ce qui a changé ? Comment, et combien ?
Et quelqu'un changera-t-il dans ce tableau ?
Arts politiques, la danse et la peinture,
Plus précisément par ces omissions –
Comme si, oublieux, ils n'oubliaient pas
mais criaient plutôt, la poudre, les barricades,
Les batteries, les fusillades de la Commune,
En représaille, la construction d'une basilique,
Symbole de surveillance sociale
Contre les facilités de la vertu, les mœurs dissolus.
La danse, et ces récits intimes,
Peinte avec une patience chinoise
Sur la porcelaine d'un dimanche après-midi,
Peinte avec les yeux d'un pêcheur.

________________

Auguste Renoir
Le bal au Moulin de la Galette (1876)
...

Mársias e a cintigrafia


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Italien »»
«« 41 / Sommaire (42) / 44 »»
________________


Mársias e a cintigrafia
Marsyas et la scintigraphie


Mársias cintila. É belo assim recortado,
Mudado por Apolo numa paisagem radioactiva.
O deus, com grandes incêndios, deu início
A uma caça à alma, ainda e sempre a monte.
Apolo é paciente, sabe que nada
Sobreviverá à devastação química
Com que fará pagar o desafio de Mársias –
Ter apregoado a impiedade do sol,
Ter-se jactado – O sol é meu inimigo –
Para se arrancar à sua insignificância.
Apolo não o esfolará vivo:
Reserva-lhe pior – uma sorte de laboratório.
Apolo admira os músculos tangidos,
A precisão dos órgãos,
O brilho viscoso das vísceras,
A coralina arborescência
De vasos, veias, fibras,
O impulso arquitectónico de um grito,
A polpa pulsante do vivo em agonia –
Apolo ama esta luz que tudo arranca.
Sobretudo, é preciso que Mársias
Suplique ainda alguma clemência divina,
Para que a sua carne se torne mais funda,
O seu sangue, mais rico,
Para que a dor se expanda
Seguindo essa esperança condutora
Que o deus, com um sopro, fará vã.

Il scintille Marsyas. Comme il est beau d'être ainsi
Écorché, par Apollon changé en un paysage radioactif.
Le dieu a donné, par de grands feux, le début
D'une chasse à l'âme qui, par les monts, courre toujours.
Apollon est patient, il sait que rien
Ne survivra à la dévastation chimique
Avec laquelle il fera payer le défi de Marsyas –
Avoir proclamé l'impiété du soleil,
S'être vanté - Le soleil est mon ennemi –
de pouvoir s'arracher à son insignifiance.
Apollon ne t'écorchera pas vif :
Il te réserve bien pire – une sorte de laboratoire.
Apollon admire les muscles tangibles,
La précision des organes,
Le brillant visqueux des viscères,
La coralline arborescence
Des vaisseaux, veines et fibres,
La pulsion architectonique d'un cri,
Le pouls qui pulse d'une vie à l'agonie –
Apollon aime cette lumière qui arrache tout.
Il faut d'abord et avant tout que Marsyas
Implore quelque divine clémence
Afin que sa chair devienne plus profonde,
Son sang, plus riche,
Afin que la douleur se répande
Selon cet espoir conducteur
Que le dieu, en un souffle, rendra vain.

________________

Le Titien
Le supplice de Marsyas
(1575-76)
...


Últimos Poemas (2009)

Ilustrações de Rasa Sakalaité




Edições QUASI