Présentation du blog / Presentazione del blog

« Questo blog nasce da una grande passione per la poesia e per i poeti di lingua portoghese. Qui troverete poesie e prose poetiche seguite dalla traduzione in italiano e francese ».

« Este blogue brota de uma grande paixão pela poesia e pelos poetas da língua portuguesa. Aqui vocês encontrarão poemas e prosas poéticas, acompanhados da sua tradução em italiano e francês ».

« Ce blog est né d'une grande passion pour la poésie et les poètes de langue portugaise et a pour vocation de vous les faire découvrir. Vous trouverez ici les poèmes, en vers ou en prose, de poètes de tous horizons, accompagnés de leur traduction en italien et en français ».


 ACTUALITÉS DU BLOG / NOTIZIE SUL BLOG



Adão e Eva


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Adão e Eva
Adamo ed Eva


Olhámo-nos um dia,
E cada um de nós sonhou que achara
O par que a alma e a carne lhe pedia.

- E cada um de nós sonhou que o achara…

E entre nós dois
Se deu, depois, o caso da maçã e da serpente,
.. Se deu, e se dará continuamente:

Na palma da tua mão,
Me ofertaste, e eu mordi, o fruto do pecado.

- O meu nome é Adão…

E em que furor sagrado
Os nossos corpos nus e desejosos
Como serpentes brancas se enroscaram,
Tentando ser um só!

Ó beijos angustiados e raivosos
Que as nossas pobres bocas se atiraram
Sobre um leito de terra, cinza e pó!

Ó abraços que os braços apertaram,
Dedos que se misturaram!

Ó ansia que sofreste, ó ansia que sofri,
Sêde que nada mata, ânsia sem fim!
- Tu de entrar em mim,
Eu de entrar em ti.

Assim toda te deste,
E assim todo me dei:

Sobre o teu longo corpo agonizante,
Meu inferno celeste,
Cem vezes morri, prostrado…
Cem vezes ressuscitei
Para uma dor mais vibrante
E um prazer mais torturado.

E enquanto as nossas bocas se esmagavam,
E as doces curvas do teu corpo se ajustavam
Às curvas fortes do meu,
Os nossos olhos muito perto, imensos
No desespero desse abraço mudo,
Confessaram-se tudo!
… Enquanto nós pairávamos, suspensos
Entre a terra e o céu.

Assim as almas se entregaram,
Como os corpos se tinham entregado.
Assim duas metades se amoldaram
Ante as barbas, que tremeram,
Do velho Pai desprezado!

E assim Eva e Adão se conheceram:

Tu conheceste a força dos meus pulsos,
A miséria do meu ser,
Os recantos da minha humanidade,
A grandeza do meu amor cruel,
As veias de oiro que o meu barro trouxe…

Eu os teus nervos convulsos,
O teu poder,
A tua fragilidade,
Os sinais da tua pele,
O gosto do teusangue doce…

Depois…

Depois o quê, amor? Depois, mais nada,
- Que Jeová não sabe perdoar!

O Arcanjo entre nós dois abrira a longa espada…

Continuaremos a ser dois,
E nunca nos pudemos penetrar!
Ci guardammo un bel dì,
E ciascuno di noi pensò d’aver trovato
La metà che l’anima e la carne gli chiedeva.

− E ciascuno di noi pensò d’averlo trovato...

E fra di noi
Successe, poi, la storia della mela e del serpente,
... Successe, e succederà continuamente:

Sulla palma della tua mano,
Mi porgesti, e io l’addentai, il frutto del peccato.

− Il mio nome è Adamo...

E in che sacro ardore
I nostri corpi nudi e bramosi
Come bianchi serpenti s’avvinsero,
Cercando d’essere uno soltanto!

Oh baci angustiati e furiosi
Che le nostre povere bocche s’impressero,
Su di un letto di terra, di cenere e polvere!

Oh abbracci che le braccia strinsero,
Dita che s’intrecciarono!

Oh ansia che patisti, oh ansia che patii,
Sete che non s’estingue, ansia che non ha fine!
− Tu di entrare in me,
Io di entrare in te.

Così tutta ti offristi,
E così tutto mi offrii:

Sopra il tuo corpo disteso in agonia,
Mio inferno celeste,
Cento volte, esausto, morii...
Cento volte risorsi
Ad un dolore più intenso
E ad un piacere più affranto.

E mentre le nostre bocche si suggellavano,
E le sinuose curve del tuo corpo s’allineavano
Al forte profilo del mio,
I nostri occhi così vicini, enormi
Nella mestizia di quell’abbraccio muto,
Si confidarono tutto!
... E intanto aleggiavamo, sospesi
Tra la terra e il cielo.

Così le anime si offrirono,
Come i corpi s’erano offerti.
Così due metà s’adattarono
Davanti alla barba fremente,
Del vecchio Padre disdegnato!

Fu così che Eva e Adamo si conobbero:

Tu conoscesti la forza dei miei polsi,
La pochezza del mio essere,
Gli anfratti della mia umanità,
La grandezza del mio amore feroce,
I filoni d’oro trascinati dal limo che è in me...

Io i tuoi nervi vibranti,
Il tuo potere,
La tua delicatezza,
Le tracce sulla tua pelle,
Il sapore del tuo sangue dolce...

E dopo...

Dopo che cosa, amore? Dopo, più nulla,
− Ché Geova non sa perdonare!

L’Arcangelo aveva sguainato fra noi la lunga spada...

Continuammo ad essere due,
E mai potemmo penetrarci!
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Fernand Léger
Adamo ed Eva (1934)
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AUTEUR SUIVI / AUTORE SEGUITO



Nuno Rocha Morais

Nuno Rocha Morais (Porto, 1973 – Luxemburgo, 2008) foi um poeta português. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Ingleses) na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1995.

A romã é um fruto ofegante...


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A romã é um fruto ofegante...
La grenade est un fruit haletant


A romã é um fruto ofegante –
A custo contém uma doçura
Redonda, intensa, repartida igualmente
Por câmaras, aposentos que, como favos,
Acolhem a língua, a envolvem;
E, embora sendo ofegante,
A doçura impassível da romã
Exige ser procurada e encontrada,
Exige paciência, minúcia, método, jogo,
Um tacto cauto que se demore,
Embora só a língua seja guia
E leve roubada a recompensa que lhe é dada,
Sem arrogância – um modesto bago –,
Para logo renovar a sua maré
Ao longo de outras nervuras,
Cruzando todas as direcções possíveis.
Tudo depende da escala do desejo,
Do desejo que se conseguir condensar
Numa ínfima carícia, e delicada.
...

La grenade est un fruit haletant –
Avec difficulté, elle renferme une douceur
Mafflue, intense, également réparti
Dans des chambres, alvéoles qui ont des fèves
Qui s'accolent à la langue, et l'enveloppent ;
Et bien qu'étant à bout de souffle,
La douceur impassible de la grenade
Exige qu'elle soit recherché et trouvé,
Elle exige patience, minutie, méthode, adresse,
Un toucher de prudence qui se retient,
Encore que seule la langue ait servi de guide
Et, voleuse, ait saisi sans arrogance la récompense
Qu'on lui donne – un modeste grain –,
Pour, plus tard, renouveler sa vague
Au long des autres côtes,
Et parcourir toutes les directions possibles.
Tout va dépendre de l'ampleur du désir,
Du désir, s'il parvient à se condenser
Dans cette infime, et si délicate caresse.
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Sandro Botticelli
Madonne à la grenade (1487)
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27 de novembro de 1912


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27 de novembro de 1912
27 novembre 1912


Em poucos minutos, estava tudo acabado:
A vida e, com ela, a eternidade.
Começava a esbrasear a longa ficção
Do que foi, cedo labareda,
E o grande incêndio do que resta
Contra a treva no quarto, no piano, no jardim.

En quelques minutes, tout fut terminé :
La vie et, avec elle, l'éternité.
Commença à s'embraser la longue fiction
De ce qui fut, avant l'heure en flammes,
Et le grand incendie de ce qui reste
Contre les ténèbres de la pièce, le piano, le jardin.

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Frédéric Henri Schopin
L'incendie de l'aile de la Comédie en 1856
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Lustral pensar...


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Lustral pensar...
Penser lustral...


Lustral pensar que poderíamos despojar-nos
De tudo, sem grande pena, sem grande perda,
Alijar todos estes objectos cuja posse
Também nos obera, que nos mantêm também
Em densos modos de espera, ansiedade, vigília.
Lustral sonhar com essa liberdade,
Levá-la mesmo mais longe, estendê-la
À massa parda de contornos, vultos,
Formas pregnantes de nós mesmos
Mergulhadas num amarelo-tempo
Ou numa sombra-sangue,
E é talvez com isso que sonhamos,
Sob pretextos mais ou menos exteriores –
Sacudir o lastro, o peso, o pó,
Que para nós mesmos somos.

Penser lustral, que nous pourrions nous dépouiller
De tout, sans grande peine, sans grande perte,
Se délivrer de tous ces objets dont la possession
Aussi nous obère, nous maintient aussi
Dans un état de veille intense, anxieux, vigilant.
Un songer lustral, avec cette liberté,
Emporte-la plus loin, oui, et même étend-la jusqu'
À la masse brune des contours, des figures,
Formes prégnantes de nous-mêmes
Détrempées dans un temps-jaune
Ou dans une ombre-du-sang,
Et c'est peut-être ainsi que nous rêvons,
Sous des prétextes plus ou moins extérieurs –
À secouer le ballast, le poids, la poussière,
Que nous sommes pour nous-mêmes.

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David López
Catharsis (2013)
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Uma sirene de fábrica...


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Uma sirene de fábrica...
Une sirène d'usine...


Uma sirene de fábrica, um alarme na rua –
A fala mansa, sob aparência estrídula,
De uma tessitura em que o mundo é, a um tempo,
Insecto e teia, só com mera mudança de turno,
Mas continuando a perseguir pelo menos
A existência de mais um instante.
Sobre esta tessitura, a outra, gelada,
Uma dispersão de pontos,
A margem pênsil, afinal uma linha,
Onde o espaço é funâmbulo
E, à sua volta, um negro amniótico
Que dorme o sono dos náufragos,
Sem sonhos, ou em devir,
Uma massa compacta
De restos de sóis, mundos extintos,
Flutuando sem deriva,
Encontrando o lugar exacto
Que lhes pertence no esqueleto invisível.

Une sirène d'usine, une alarme dans la rue -
La voix docile sous des apparences stridulantes,
D'une tessiture en laquelle le monde est, à la fois,
Insecte et toile, juste avec un simple changement de quart,
Mais continuant de poursuivre son existence,
Ne serait-ce qu'un instant de plus.
Sur cette tessiture, l’autre, glaciale,
Une dispersion de points,
la marge en suspension, finalement un fil,
Où l’espace est funambule
Et, alentour, un noir amniotique
S'endormant du sommeil des naufragés,
Sans rêves, ni devenir,
Une masse compacte
De soleils, de mondes éteints,
Flottant sans dérive,
Trouvant l'endroit exact
Qui leur appartient dans le squelette invisible.

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Tobia Ravà
Système entropique, Harmonie universelle (2015)
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Sem ti, dei cada passo...


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Sem ti, dei cada passo...
Chaque pas sans toi, me laisse...


Sem ti, dei cada passo como cego
Em terra estrangeira,
Respirei a ignescência do ar
Até que, enfim, tudo,
Quanto foi e o mais que não foi,
Se elevou num bando espantado,
Leve, levado para fora do tempo
A que já não pertence,
Extinto o tanto de mim que me emprestaste.

Chaque pas sans toi, me laisse aveugle
sur une terre étrangère,
J'ai respiré la combustion de l'air
jusqu'à ce que, finalement, tout,
aussi bien ce qui fut que ce qui ne fut pas
s'éleva, troupeau stupéfait,
Léger, emporté hors du temps
auquel je n'appartiens plus déjà, et que
s'éteigne en moi ce dont tu me créditais.

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Roberto Matta (1963)
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Como fotografia de família...


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Como fotografia de família...
Comme une photographie de famille...



Como fotografia de família
O recorte dos rochedos arreganhados
Contra o Atlântico hirsuto.
Dir-se-ia que são eles a investir,
Na sua obstinação muda e imóvel,
Contra as vagas, que desfazem e calam
Em estilhas de espuma.
Mais tarde, na maré vaza, os rochedos
Terão regaços de água morna,
Um cheiro a sexo e choco,
Um calor que abraça,
Pegajoso, enjoativo,
De uma ternura dúplice.
Comme une photographie de famille
La découpe des rochers déchiquetés
Contre l'Atlantique hirsute.
On dirait que ce sont eux qui se soulèvent,
Avec leur obstination muette et immobile,
Contre les vagues, qui se défont et finissent
Par se taire en copeaux d'écume.
Plus tard, à marée basse, les rochers
Iront se blottir dans une eau tiède,
Une odeur de sexe et de seiche,
Une chaleur qui embrasse,
Collante, écœurante
D'une tendresse duplice.

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Paul Gauguin - La vague (1888)

Nem sempre o mundo cai de pé...


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Nem sempre o mundo cai de pé...
Le monde ne retombe pas toujours...



 Para a Luísa

Nem sempre o mundo cai de pé,
Mas às vezes acontece,
E assim fica, serenamente pousado,
Como essa laranja em noite de Consoada,
Embrulhada junto àquilo a que, por tradição natalícia,
Chamavam chaminé,
Laranja que veio da Bahia,
Comida com método e cuidado,
Presente de família pobre.
Oxalá a memória acabe sempre
Por nos achar e trazer esta luz
Redonda, plácida, pousada,
Sem translação ou lado oculto,
Terra rara que concentra de nós
O mais elementar, o mais fundo,
O mais perdidamente frágil –
Um afecto que nem sempre nos será perdoado
Porque é da sua natureza o mal-entendido.
 Pour Luisa

Le monde ne retombe pas toujours sur ses pieds,
Mais parfois, cela arrive,
Et, il en est ainsi, comme de cette orange,
Sereinement déposée, dans la nuit du Réveillon,
Emmitouflée dans ce que, par tradition de Noël,
On nomme chausson de cheminée
Orange qui vient de Bahia,
Nourriture préparée avec soin,
Présent de famille pauvre.
J’espère que la mémoire finira toujours
Par nous trouver et nous apporter cette
Ronde lumière, calme et reposante,
Sans traduction ou côté secret,
Terre rare qui concentre sur nous
La plus élémentaire, la plus profonde,
La plus éperdument fragile –
Des affections qui ne nous sera pas toujours pardonnée
Parce qu'il est dans sa nature d'être mal-comprise.

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Vassily Kandinsky
Composition X (1939)

Um porto – a putrescência da chegada...


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Um porto – a putrescência da chegada...
Un port – l'eau croupie à l'arrivée...



Um porto – a putrescência da chegada,
Mescla de cânhamo, gasóleo, maresia.
Trepidação, gritaria, a água imunda,
Mas irisada com os rastos de óleo,
Um espelho talvez mais rigoroso.
Pestanejamos para habituar os olhos
Ao fim da viagem, às cores mais sombrias.
Resta saber se teremos de facto viajado,
Se nos tisnámos sob sóis bastantes
Para nos fazer mudar de pele,
Se fugimos às cordas de latitudes,
Se há longitudes que nos alcançaram,
Se o remisso regresso é só mais um revés,
Só mais um grau na translação da angústia.
O que saberemos quando se der o leve baque
Com que a terra nos recebe?
Un port – l'eau croupie à l'arrivée,
Mélange de chanvre, de gazole et de varech.
Trépidation, criaillerie, l'eau immonde,
Mais irisée par des filets d'huile.
Un miroir sans doute plus précis.
Clignements des yeux pour les habituer
En fin de voyage aux couleurs plus sombres.
Reste à savoir si nous aurons effectivement voyagé,
Si les soleils nous ont suffisamment noircis
Pour nous faire changer de peau,
Si nous échappons aux filins des latitudes,
S'il y a des longitudes qui nous rattrapent.
Si l'apathie du retour n'est qu'un revers de plus,
Qu'un degré de plus dans le transfert de l'angoisse.
Ce que nous saurons lorsque la terre va donner
Pour nous accueillir ? le léger à-coup.

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Claude Gelée dit Le Lorrain
Le débarquement de Cléopâtre à Tarse (1642)

Viveram ainda muitos anos...


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Viveram ainda muitos anos...
Ils ont vécu encore...



Viveram ainda muitos anos na cave, os bichanos. Viveram à espera. Mais do que dos anos, sofreram as moléstias da espera.
Ils ont vécu encore de nombreuses années dans la cave, les mistigris. Vivant d'espoir. Mais ils souffrirent au cours de ces années, les affres de l'attente.
Ao contrário de muitos amantes, não davam mostras nenhumas de vaidade por estarem assim mortos, à espera.
Au contraire de bien des amants, ils ne montrèrent aucun signe de vanité d'être ainsi, à attendre, pareils à des morts.
Iam esquecendo a aprendida mansidão, devolvidos quase à rua, à selvajaria, ferozes até na ternura.
Ils en oubliaient l'apprentissage de la mansuétude, retournant presque à la rue, à l'état sauvage, féroce jusque dans la tendresse.
Um dia, convolaram-se em escuridão.
Un jour, ensemble, ils convolèrent dans l'obscurité.

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Theophile Alexandre Steinlen
Deux chats (1894)

De todos os gatos...


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De todos os gatos...
De tous les chats...



De todos os gatos que a minha avó teve – todos com simples nomes de cores: Black, Branquinho, Cinzento, Lourinho –, quero falar deste.
De tous les chats que ma grand-mère avait – tous, avec des noms simples de couleurs : Black, Blanco, Grisette et Blondinet –, je veux vous parler.de ce dernier.
Nunca lhe fiz uma única festa. Era um gato de rua que, mesmo em casa, continuou a ter hábitos de rua. Esquivo e feroz, não deixava ninguém aproximar-se.
Jamais je ne lui fit de caresses. C'était un chat des rues qui, même à la maison, gardait ses habitudes de rue. Fuyant et farouche, il ne laissait personne l'approcher.
Só me lembro da existência desse gato ao colo da minha avó. O resto do tempo, presumíamos apenas a sua existência debaixo de um móvel qualquer – ou em cima dele –, no recanto mais escuro, mais inimaginável.
Je ne me souviens de l'existence de ce chat que sur les genoux de ma grand-mère. Le reste du temps, c'est à peine si nous pouvions présumer de son existence sous un meuble quelconque – ou sur le dessus d'un autre –, dans un recoin des plus obscur, des plus inimaginable.
Então, a minha avó, como uma encantadora, chamava por ele numa voz aguda, salmodiando-lhe o nome, a única voz que o amor reconhecia, a única voz que o amor deixava ir ao seu encontro na sombra amiga e pela qual se deixava encontrar.
Puis, ma grand-mère, comme une enchanteresse, l'appelait d'une voix aiguë, psalmodiant son nom, la seule voix que l'amour reconnaisse, la seule voix que l'amour laissât venir à sa rencontre dans l'ombre amicale et dans laquelle il se laissait trouvé.
E o Lourinho aparecia, convocado de nenhures, criatura da mais pura magia.
Et Blondinet apparaissait, convoqué de nulle part, créature de la plus pure magie.

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Franz Marc
Die weiße Katze (Kater auf gelbem Kissen) - 1912



Últimos Poemas (2009)

Ilustrações de Rasa Sakalaité




Edições QUASI