Présentation du blog / Presentazione del blog

« Questo blog nasce da una grande passione per la poesia e per i poeti di lingua portoghese. Qui troverete poesie e prose poetiche seguite dalla traduzione in italiano e francese ».

« Este blogue brota de uma grande paixão pela poesia e pelos poetas da língua portuguesa. Aqui vocês encontrarão poemas e prosas poéticas, acompanhados da sua tradução em italiano e francês ».

« Ce blog est né d'une grande passion pour la poésie et les poètes de langue portugaise et a pour vocation de vous les faire découvrir. Vous trouverez ici les poèmes, en vers ou en prose, de poètes de tous horizons, accompagnés de leur traduction en italien et en français ».


 ACTUALITÉS DU BLOG / NOTIZIE SUL BLOG



Iniciação


Nome:
 
Collezione:
 
Altra traduzione:
Eucanaã Ferraz »»
 
Livro Primeiro (1990) »»
 
Francese »»
«« precedente / Sommario / successivo »»
________________


Iniciação
Iniziazione


Conheço o primeiro livro de poemas:
Eu
de Augusto dos Anjos.

Meu pai o tem entre
tratados de odontologia,
sem capa, velho, enferrujado.

De ortografia esquisita, leio
como se adentrasse um círculo onde
o tempo é outro, feito de palavras
estranhas, como que odontologizadas
pelo contato físico.

Livro misteriosíssimo,
no qual a morte é o superlativo
síntese de tudo, absoluta
como minha preguiça
de ir ao dicionário decifrar vocábulos
Conosco il primo libro di poesie:
Eu
di Augusto dos Anjos.

Mio padre lo tiene tra
i trattati di odontologia,
senza copertina, vecchio, rugginoso.

L’ortografia è ricercata, leggo
come se m’addentrassi in un circolo dove
il tempo è diverso, fatto di parole
strane, come se odontologizzate
dal contatto fisico.

Libro misteriosissimo,
nel quale la morte è l’apogeo
sintesi di tutto, assoluta
come la mia pigrizia
nell’usare il dizionario per decifrare i vocaboli.
________________

Augusto dos Anjos - Eu (1912)

Il bacio, amico, è il preludio d’uno sputo
La mano che accarezza è la stessa che lincia
...

AUTEUR SUIVI / AUTORE SEGUITO



Nuno Rocha Morais

Nuno Rocha Morais (Porto, 1973 – Luxemburgo, 2008) foi um poeta português. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Ingleses) na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1995.

A carne do olímpico...


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Últimos Poemas (2009) »»
 
Italien »»
«« 21 / Sommaire (22) / 24 »»
________________


A carne do olímpico...
La chair de l'olympien...


A carne do olímpico já só era
O guarda-pó do mito.
As huris da imaginação
Apenas lhe serviam ambrósia, néctar, rosas.
Uma das últimas vontades de Fraulein von Stein
Foi que o seu cortejo fúnebre não passasse
Pela casa do olímpico, para não o incomodar.
Foi decretado património universal,
Mas a realidade insistia em assediá-lo
Com pessoas de óculos, o latir dos cães,
O odor do tabaco, o rufo de tambores,
Sangue, frestas, mulheres hidrópicas, glândulas –
E loucos com labirintos que o horrorizavam
Como se fossem vísceras.
O olímpico amava a inteligência
De esquadria, a ciência de leis limpas –
A óptica, a mineralogia;
A inteligência alinhada,
Disciplinada em raciocínios
Que avançavam nos seus uniformes garridos,
Brandindo argumentos garbosos e reluzentes
Por entre o fumo negro,
Irresistíveis até serem ceifados.
Não por acaso negociou mercenários,
Foi munificente em vénias
Pelos salões, pelas ruas, pelos livros.
Não entendeu nunca a febre desses fedelhos
Novalis, Hölderlin, Kleist,
Sobretudo desse Kleist,
Que lhe pareceu um doente,
Cheio de lava e guelras.
O olímpico amava a luz,
A sua presunção e graça matemáticas.
Contemplava o próprio perfil na eternidade,
Já sem tempo para esta vida
(Parêntese para o desencanto com Marianne)
Cheia de freimas, mucos, contrariedades.
Sentia-se já irradiar a esplendecência dos eleitos.
Os «fedelhos» esperavam-no, talvez com um sorriso:
Souberam antes dele que a eternidade
Não é a luz dos eleitos,
Mas o recanto sombrio onde são encontrados.

La chair de l’olympien n'était déjà plus
Que la pelle à poussière du mythe.
C'est à peine si les houris de l'imagination
Lui avaient servi le nectar, l'ambroisie, et les roses.
L'une des dernières volontés de Fraulein von Stein
Fut que son cortège funèbre ne passât pas
Devant la maison de l'olympien afin qu'il ne soit pas incommodé.
On décréta son appartenance au patrimoine universel,
Mais la réalité persiste à le harceler
Avec des gens à lunettes, des aboiements de chiens,
L'odeur du tabac, les roulements du tambour.
Sang, fissures, femmes hydropiques, glanduleuses –
Et des fous de labyrinthes qui l’horrifiaient
Comme s'il s'agissait de viscères.
L'olympien aimait l'intelligence
Des angles droits, les lois cristallines de la science –
L'optique, la minéralogie ;
L'intelligence linéaire
Disciplinée par des raisonnements
Qui s’avancent dans leurs uniformes bariolés,
Brandissant des arguments irrésistibles, élégants
Et lumineux à travers la fumée noire,
Jusqu'à ce qu'ils découpent tout au ras.
Ce n'est pas par hasard s'il négocia avec des mercenaires,
Il fut prodigue en révérences
Dans les salons, la rue et dans ses livres.
Jamais il ne comprit la fièvre de ces marmots.
Novalis, Hölderlin, Kleist,
Surtout ce Kleist,
Qui lui semblait morbide,
Plein de lave et de branchies.
L'olympien aimait la lumière,
Sa présomption et sa grâce mathématique.
Il contempla son profil dans l'éternité,
N'ayant déjà plus de temps pour cette vie
(Parenthèse désenchantée avec Marianne)
Empli de combats, de mucosités, de revers.
Il sentit que rayonnait déjà la splendeur des élus.
Les « marmots » l'attendaient, avec un sourire peut-être :
Avant lui, ils avaient compris que l'éternité
N'est pas la lumière des élus,
Mais le recoin sombre où ils se trouvent.
...

________________

Wilhelm Tischbein
Goethe dans la Campagne romaine (1787)
...


Últimos Poemas (2009)

Ilustrações de Rasa Sakalaité




Edições QUASI